quarta-feira, 26 de maio de 2010

Palavras do Infinito

A PALAVRA DOS "MORTOS"
(...) com o objectivo de fornecer gratuitamente, com a mensagem dos "mortos", um consolo aos tristes uma esperança aos desafortunados e um raio de claridade aos que naufragam, desesperados, na noite escura da dúvida e da descrença em meio às borrascas do oceano tempestuoso da vida.
Existem poucas probabilidades de eficácia no esforço dos "mortos" em favor da regeneração da sociedade dos vivos. Contudo as actividades de ordem espiritualista, na actualidade do mundo, constituem a derradeira esperança da civilização. Sou agora dos que vêem de perto o trabalho intenso das colectividades invisíveis pelo progresso humano; sinto ao meu lado a vibração luminosa do pensamento orientador das sentinelas avançadas de outras esferas da evolução e do conhecimento e reconheço que somente das concepções cristãs do moderno Espiritualismo poderá nascer o novo dia da Humanidade. E embora a negação sistemática dos homens diante dessas realidades consoladoras, os túmulos vêm deixando escapar os seus profundos e maravilhosos segredos, falando a sua palavra tocada de conforto e de claridades sobrenaturais.
Na antiguidade egípcia, figurava-se o santuário da verdade ao fim de uma estrada sinuosa, rodeada de esfinges, representando os enigmas das suas essências profundas; e no seu estranho simbolismos essas imagens constituíam as esfinges da Morte, cujos umbrais de silêncio e de treva a Vida jamais poderia transpor para solucionar os problemas inestricáveis dos destinos e dos seres. O tempo, todavia, modificou a mentalidade humana, adaptando-a para um conhecimento melhor de si mesma. Em meados do século passado, quando o materialismo atingia as suas cumiadas, na expressão filosófica dos pregoeiros e expositores, eis que os "mortos" voltam a confabular com os vivos sobre a sua maravilhosa ressureição. A esperança volta a felicitar a mansarda dos pobres e o coração dos oprimidos na prodigiosa perspectiva da imortalidade através de todos os mundos e os desencarnados, num heroísmo supremo, volvem aos centros de estudos e aos gabinetes dos sábios com a lição piedosa das suas experiências.
Não obstante a arrancada gloriosa dos que já haviam partido das substâncias podres da Terra para as esferas luminosas do Céu, tentando com seus exércitos de arcanjos, reorganizar a sociedade humana,restaurando os alicerces do Cristianismo, poucos foram aqueles que ouviram as suas trombetas ecoando no vale das lágrimas e das provações. Diante desse fenómeno universal, a religião não pode volver dos seus interesses e da sua intransigência para identificar a espiritualidade dos seus santos e dos seus antigos reformadores; a ciência académica, por sua vez, conserva-se de guarda ao seu passado e com as suas conquistas de ontem presume-se na posse da sabedoria culminante. Entretanto o dogmatismo é incompatível com o progresso, e todas as concepções científicas de cada século se caracterizam pela sua instabilidade, porque os olhos da carne não vêem o que existe. Nenhuma teoria pode explicar a vida à base exclusivista da matéria. Todos os fenómenos mecânicos do Universo obedecem a uma força inteligente e nada existe de real diante da visão apoucada dos homens, porque as verdades profundas se lhes conservam invisíveis.
Os movimentos planetários, os turbilhões atómicos no complexo da todas as coisas tangíveis, inclusive o seu próprio corpo, o mistério da força, os enigmas da aglutinação molecular, o segredo da atracção, a identidade substancial da energia e da matéria, que nunca se encontram separadas uma da outra, não se mostram aos olhos humanos dentro da sua transcendência e da sua grandeza. Todo o átomo de matéria tem sua génese no átomo invisível, de natureza psíquica. Raios impalpáveis e ocultos trazem a vida e trazem a morte. E o homem, na sua ignorância presumida, mal se apercebe de que é o fantasma cambaleante de Édipo, vivendo na zona limitada do seu livre arbítrio, mas submetido às leis de bronze do destino e da dor, cujas actividades objectivam o aprimoramento de sua personalidade; apesar da sua vaidade e do seu orgulho, todas as suas glórias materiais caminham para a morte. Nitzsche arquitecta com Zaratustra a filosofia do homem superior para cair aniquilado sob o seu próprio infortúnio. Napoleão, depois das lutas prestigiosas que lhe granjearam a admiração universal, recolhe-se em Santa Helena para meditar nas célebres sentenças do Eclesiaste. Édison, após encher de conforto as cidades modernas com a sua imaginação criadora, sente o esgotamento de suas forças fisícas para aguardar o gume afiado da morte. Os homens, com todos os pergaminhos de suas conquistas, viverão sempre no círculo de suas fraquezas e de suas misérias, enquanto não se voltarem para o lado espiritual do Sofrimento e da Vida.
A manifestação das actividades dos "mortos" não lhes tem fornecido as conclusões de ordem moral que se fazem necessárias ao aperfeiçoamento colectivo; com algumas honrosas excecções, despertou apenas o sentimento de suas análises, nem sempre orientadas no propósito de saber, para serem filhas intempestivas das vaidades pessoais de cada um. Disse Ingenieros, nos seus estudos psicológicos, que a história da civilização representa apenas o desenvolvimento da curiosidade humana. Se isso é um facto incontestável, não é menos verdade que essa sede de revelações deve possuir uma bússola espiritual nas suas longas e acuradas perquerições do invisível. Muita experiência trouxe do mundo para acreditar que as teorias, só por si, possam operar a salvação da humanidade. Elas constituem apenas o roteiro de sua marcha onde os espíritos de boa vontade vão conhecer o caminho. São acessórios do seu esclarecimento sem representarem a compreensão em si mesmas. Toda a civilização ocidental fundou-se à base do Cristianismo; todavia o que menos se vê, no seu fausto e na sua grandeza, é o amor e a piedade do Crucificado. A actualidade está cheia de exemplos dolorosos. Povos considerados cristãos preparam-se afanosamente para as lutas fratricidas. A Liga das Nações, que alimentava o sonho da paz universal está hoje quase reduzida a uma abstracção de ideólogos. A Itália e Alemanha expansionistas empunham a espada do arrasamento e da destruição. Ainda agora o general Ludendhorf acaba de entregar á publicidade o seu livro terrível sobre a guerra total.
A crença e a fé não procedem de combinações teóricas ou do malabarismo das palavras e dos raciocínios. É no trabalho e na dor que se processam e se afinam. Para a fé não há melhor símbolo que o toque de Moisés sobre as rochas adustas, fazendo brotar o lençol líquido das águas claras da vida. Só a dor pode tocar o coração empedernido dos homens e é por isso que a lição dos "mortos" servirá somente para constituir a base nova da sociologia de amanhã. A fé, por enquanto, continuará como património dos corações que foram tocados pela graça do sofrimento. Tesouro da imortalidade, seria o ideal da felicidade humana se todos os homens o conquistassem,mesmo nos desertos tristes da Terra.
Um grande astrónomo francês, inquirido sobre as recompensas do Céu, acentuou:
"Mesmo aqui podem as criaturas receber as recompensas do paraíso. O Céu é o infinito e a Terra é uma das pátrias da Imensidade; todos os homens, portanto, são cidadãos celestes. É aqui superfície triste do mundo, que as almas realizam a aquisição de suas felicidades. Estamos em pleno céu e em toda a parte veremos cada um receber segundo suas obras..."
Sobre as frontes orgulhosas dos homens pairam os órgãos invisíveis de uma justiça imanente e sobre a terra pode o espírito fazer jus aos prémios do Alto. A crença, com os seus esplendores subjectivos, é um desses maravilhosos tesouros.
Que as palavras do infinito se derramem sobre o entendimento das criatura; cooperando com a dor, elas descobrirão para o homem as grandezas ocultas de sua própria alma, a fim de que ele aceite, em seu próprio benefício, as realidades confortadoras da sobre vivência. A voz do além pode ficar incompreendida, mas os "mortos" continuarão a falar para os vivos, comandados à ordem de Alguém, que está acima das opiniões de todos os cientistas e escritores, encarnados e desencarnados. Foi a piedade de Jesus que abriu as cortinas que velavam os mistérios escuros e tristes da morte e o Divino Jardineiro conhece o terreno fecundo onde germinam as sementes do seu amor.
Os homens aprenderão à custa das suas dores, com todo fardo de suas misérias e de suas fraquezas e as palavras do infinito cairão sobre eles como a chuva de favores do Alto. Que elas se espalhem nos corações e nas almas, porque cada uma traz consigo a claridade de um sol e a doçura de uma bênção.
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Espírito:Humberto de Campos
(Pedro Leoplodo, 27 de Março de 1935)
Nem sempre nos é possível a assiduidade que gostaríamos de ter, por isso as nossas desculpas.
Que esta mensagem vos ajude, pensamos ser mais uma gota a saciar a sede de conhecimento.
Um abraço fraterno Elda

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